Um convite muito especial: vamos transformar o “eu sobrevivi apesar da minha infância” por «eu vivo por causa da minha infância”?

Márcia Pires Orion Zanetti

Mesmo que a minha educação tenha sido baseada em castigos, violências, gritos e nas mais variadas maneiras de desrespeito, eu posso romper esse ciclo e educar meus filhos por intermédio do acolhimento e respeito.

Não vou impor a minha autoridade por intermédio de chantagens, ameaças, castigos ou qualquer outro tipo de violência, seja física ou psicológica, com o argumento de que se a criança não for submetida a essas lições, jamais será um adulto que saiba respeitar, a ser educado, a superar dificuldades com resiliência e que seja forte e saiba lidar com as mazelas do mundo adulto.

Muito menos com o argumento de que passamos pelas mais diversas manifestações de agressões e, apesar disso, sobrevivemos.

Nossos pais não foram cruéis, não é isso. Porém não tinham instrumentos e conhecimentos para educar seus filhos de maneira diferente.

Sabemos quantos traumas carregamos e todas as dificuldades que temos para lidar com certas situações devido a esses castigos, ao famoso “engole o choro” ou “nossa, que feio”…

Se realmente queremos que nossos filhos se sintam seguros e acolhidos por nós, que sejam realmente fortes e possam transformar com suas atitudes o nosso mundo em um mundo melhor, precisamos romper ciclos, até porque os tempos mudaram e precisamos urgente humanizar o nosso planeta.

Então o primeiro passo é se conscientizar que reproduzir com nossos filhos a mesma maneira pela qual fomos educados pelos nossos pais, não é o melhor caminho.

Mas como educar meus filhos de maneira respeitosa sem cair na educação permissiva? A educação permissiva também é desrespeitosa e abusiva, uma vez que entregam o filho a própria sorte para lidar com seus conflitos, frustrações e dificuldades. Baseia-se no pode tudo, seja porque não sabem colocar os devidos limites ou porque nem olham para as necessidades de seus filhos. Pobre criança, abandonada, sem limites, sem apoio, sem qualquer tipo de orientação ou conexão.

Na educação respeitosa os pais, mães e cuidadores assumem a responsabilidade pela educação das crianças, entendem que estão em processo de desenvolvimento, de aprendizagem e, como tal, a criança agirá como criança.

Cabe ao adulto assumir a responsabilidade e autoridade que lhe cabe, garantindo as condições para a segurança, saúde, desenvolvimento cognitivo, emocional de seus filhos e entender que nós seres humanos, diferente de outros animais, dependemos dos adultos para a própria sobrevivência durante muitos anos.

Mas para isso, não precisam gritar, bater ou usar de atitudes violentas, atitudes essas que os desconectam de nossas crianças.

Precisamos aprender a olhar nos olhos de nossas crianças, a dialogar, a estar presente e, por intermédio de nossa atenção, carinho e respeito, compreender que, por estar em processo de desenvolvimento, necessitam muito que estejamos disponíveis, que saibamos dizer não e a mostrar o que é bom e o que não é, o que é saudável ou não, mas com equilíbrio, com atitudes coerentes e com paciência.   

Nós adultos precisamos, com nossos filhos, reaprender a brincar, a contar histórias, a passear ao ar livre, a apreciar momentos simples e tão necessários para que realmente haja situações repletas de harmonia entre pais e filhos. Precisamos acreditar nas suas capacidades para que errem, refaçam e sintam-se seguros para assumir seus erros sem medo de consequências violentas. São esses momentos de cumplicidade e responsabilidade que nos dão a oportunidade para aprender e ensinar, para conviver e compreender a essência de nossas crianças, suas necessidades e fragilidades e a nos despertar e redescobrir o ser humano que, na correria do dia a dia, muitas vezes deixamos de ser.

Convite aceito? Vamos transformar o “eu sobrevivi apesar da minha infância” por “eu vivo por causa da minha infância”?

Márcia Pires Orion Zanetti, Pedagoga, Pós-graduada em Magistério do Ensino Superior, MBA em Gestão Estratégica de Serviços, Mestre em Psicologia da Educação, com experiência em docência, coordenação e direção de escolas de educação básica, docência no ensino superior e criadora digital de conteúdos sobre educação respeitosa.

 

 

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