Nossas crianças e a exposição às telas… Perigo à vista!

Márcia Pires Orion Zanetti

No livro A Fábrica de Cretinos Digitais: Os Perigos das Telas Para Nossas Crianças, publicado em 2021, o neurocientista francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, apresenta por intermédio de dados concretos como os dispositivos digitais estão afetando seriamente o desenvolvimento neural de crianças e jovens e porque, desde quando são realizados estudos sobre o aumento do quociente de inteligência (QI)  de uma geração para outra, pela 1ª vez os filhos têm QI inferior ao dos pais.

Desmurget enfatiza que vários estudos têm mostrado que quando o uso de televisão ou videogame aumenta, o QI e o desenvolvimento cognitivo diminuem. Mesmo considerando que outros fatores também interferem no desenvolvimento saudável da criança como o sistema de saúde, o sistema escolar, a nutrição, exposição à poluição, agrotóxicos, entre outros, o neurocientista afirma que a exposição precoce às telas afeta os principais alicerces da nossa inteligência, como:  linguagem, concentração, memória e, em consequência, há uma queda significativa no desempenho acadêmico.

Conforme orientações da Academia Americana de Pediatria (AAP),  Organização Mundial de Saúde (OMS) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), são vários os danos causados às crianças em relação ao desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor devido à exposição precoce às telas, como TVs, computadores, tablets e smartfhones.

De acordo com esses órgãos, a recomendação é que  crianças abaixo de 18 meses  devem ter nenhuma exposição às telas, e até 2 anos poderiam ter pouca ou nenhuma exposição, exceto em casos esporádicos como vídeo chamadas a familiares que moram distantes, por exemplo.

Esse é um período crítico para o desenvolvimento da criança, então a interação física com outras pessoas e a sua criatividade devem ser estimuladas ao máximo. Se a criança for exposta a telas, é importante que o adulto assista em conjunto e escolha conteúdos educativos de qualidade, que ajudarão a criança a compreender o que está assistindo.

Já as crianças entre 3 e 5 anos,  até 1 hora de exposição às telas  não seria tão prejudicial desde que seja feita  com planejamento e a programação previamente estabelecida e com a interação dos adultos cuidadores. As telas não devem ser usadas com a finalidade de acalmar ou distrair a criança e, sem dúvida, a substituição de telas por brinquedos ou livros é muito mais favorável ao desenvolvimento da criança.

Entre 6 e 10 anos, também com os devidos cuidados, poderiam ser expostas às telas entre 1 hora e 1 hora e meia, ao dia,  porém seguindo algumas recomendações sugeridas pelos órgãos oficiais de saúde, como avaliar o conteúdo consumido, certificando-se que primeiro realizem as tarefas da escola, que as telas não ocupem o tempo que deve ser gasto com horas de sono adequadas, atividade física e outras atividades essenciais à saúde da criança.

Segundo a médica Roberta Tanabe, coordenadora do Núcleo Saúde e Brincar do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz),  a primeira infância, compreendida na fase de 0 a 6 anos, é um período crítico de crescimento e maturação. O corpo como um todo e as estruturas cerebrais, em especial, estão em pleno processo de modelação e desenvolvimento. É na interação com o ambiente e com os cuidadores, que as crianças realizam seu potencial na ampliação de habilidades físicas, cognitivas, emocionais e sociais. Interferências e problemas situados nessa fase podem gerar efeitos significativos na plena evolução infantil.

Entre os principais danos causados ao desenvolvimento das crianças pela exposição às telas, Tanabe enfatiza que,do ponto de vista físico e motor, destacam-se: sedentarismo, obesidade, vícios posturais e dores musculares, baixa motricidade, manifestações oculares como síndrome do olho seco, vista cansada e miopia, problemas auditivos pela exposição a excesso de ruído. Do ponto de vista cognitivo, a diminuição das horas e da qualidade do sono, sobretudo, quando as telas são usadas antes da hora de dormir, interferem na capacidade de aprendizagem e se relacionam com sonolência diurna e piora do desempenho acadêmico. Há atrasos também na linguagem, porque as crianças dependem da comunicação com outras pessoas para aquisição de vocabulário e desenvolvimento linguístico. Em relação à saúde emocional, a super estimulação presente nos meios digitais e a obtenção de respostas imediatas interferem, negativamente, na capacidade de atenção e na habilidade de saber esperar, contribuindo para a impulsividade, hiperatividade, baixa tolerância às frustrações, irritabilidade e estresse. O comportamento passivo da criança frente às telas pode também  fomentar uma predileção por atividades que exijam menos cognitivamente, debilitando assim a capacidade criativa e crítica dos pequenos. A preguiça, a ansiedade e a frustração são reações que podem surgir diante de atividades que requeiram esforço intelectual, paciência e o protagonismo delas.

E para completar a lista de danos que as telas causam em relação ao desenvolvimento das crianças, vários especialistas alertam sobre a dependência digital, uma vez que a exposição constante aos estímulos rápidos das redes sociais, provoca a liberação do chamado hormônio do prazer, a dopamina, a qual pode levar o indivíduo ao vício de obter satisfações rápidas e, consequentemente, levá-lo à dependência digital.

Para concluir, não podemos nos esquecer, também, que somos exemplo para nossas crianças e nossas ações devem ser coerentes aquilo que orientamos e exigimos e, portanto, devemos  limitar o nosso uso dessas telas quando estamos com as nossas crianças, e sempre que possível devemos dialogar com elas  sobre esses danos, estabelecer a quantidade de horas apropriadas para a exposição às telas e determinar horários em que a tela não deve ser usada, por ninguém da família, como no horário das refeições, por exemplo.

Sem dúvida, médicos e educadores precisam incluir na sua agenda o trabalho de orientação aos pais, mães, avós, avôs e demais adultos cuidadores,  quanto aos malefícios causados pela exposição das crianças às telas.

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Esta entrada tiene un comentario

  1. Assunto sério e urgente!
    Essa geração de pais se adaptaram muito rapidamente ao comodismo de se livrarem de todas as agruras que fazem parte de uma educação saudável. Com as telas os pequenos não amolam mais!!!! Como lidarão com as consequências? Temo só em pensar!
    Parabéns! Precisamos demais desses alertas!

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